Você é daqueles que gosta de ler mais romances ou contos?🤔📖
Confesso que tenho preferência pela leitura de um bom romance, mas nos últimos meses tenho lido excelentes contos, conversado e refletido mais sobre essa forma literária nos grupos de escrita e leitura de que participo.
Mesmo romances, tenho dado preferência, especialmente na literatura conteporânea, aos romances pancadas, aqueles curtos e com um ritmo frenético! É… são os sintomas de tempos velozes…
Ler contos nem sempre faz parte da rotina de muitos bons leitores que conheço. O romance costuma ser o formato mais privilegiado e é algo raro uma coletânea de contos aparecer em resenhas literárias nas terras digitais.
Mesmo escritores podem acabar negligenciando a leitura de histórias curtas por se sentirem mais confortáveis na forma romance, e de, maneira intuitiva, acabam se alimentando mais de narrativas longas em seu cotidiano.
No entanto, para aqueles que amam escrita criativa e boas histórias as narrativas curtas podem proporcionar um prazer diferente e delicioso de leitura e um aprendizado enorme para a escrita de textos ficcionais.
Mesmo no audiovisual, em que as séries parecem dominar, percebo que a narrativa curta tem ganhado força!
Já reparou nas características peculiares do jogo narrativo de algumas histórias genias da série antológica Love, Death & Robots?
Perceba que a diferença aqui não é apenas termos um conjunto de histórias individualizadas com uma temática comum, mas o ritmo e o impacto ao final de cada história.
Há um recorte de fração decisiva para capturar o espectador em um ritmo frenético até o ápice da história que possui seu desfecho tramado como uma clímax!
Nunca esqueço do meu choque quando ainda garota li O colar de diamantes de Guy de Maupassant. É como uma pancada na cabeça. A experiência de ler um bom conto é sempre algo muito poderoso.
Às vezes a gente passa horas vendo uma série na Netflix, querendo saber até onde aquela história vai... Uma enrolação terrível, você começa a ficar irritado com essa nova mania dos streamings de criar narrativa seriadas de milhões de temporadas, com muita encheção de linguiça e pouco a dizer.
Aí você lê um conto de Guy de Maupassant e pensa, caramba! é possível contar uma boa história com poucas páginas e deixar o leitor por dias inebriado com aquele sentimento que só uma grande história é capaz de proporcionar!
Sabe aqueles dias que você tá super a fim de ler algo bem curtinho que faça a sua cabeça ter milhões de insights? Sai um pouco das plataformas!
Investe na leitura de um bom contista! Já recomendo para começar a leitura dos maravilhosos contos fantásticos de Guy de Maupassant.💫
Não precisa ficar com medo desse autor clássico! Você vai se surpreender com a fluência e o poder dessas histórias insólitas!
Quer aprender o tesouro da escrita criativa? Leia contos! A síntese dramática dessa forma narrativa pode nos ensinar muito sobre escrita e a arte de contar boas histórias!
Contistas são grandes estilistas e sabem definir com muita precisão a estrutura e o tom de seus narradores considerando a necessidade de brevidade e efeito impactante: dizer muito com pouco!
(...) o esforço de escrever um conto curto é tão intenso como o de começar um romance."
Gabriel García Marquez, Doze Contos Peregrinos
Quando preciso começar um projeto, romance ou conto, fico alguns dias pesquisando narradores criados por grandes mestres da literatura, especialmente contistas.
Aprender com esses grandes escritores nos faz perceber que construir um narrador em literatura está muuuuito além de escrever em 1ª ou 3ª pessoa!
Nessa edição da news, escolhi 3 contos de mestres da literatura para observar como podemos aprender com grandes contistas a criar bons narradores para a história que desejamos contar.
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1. Narrador Protagonista
1ª pessoa
tom: impressionista - imprime aos fatos um colorido subjetivo
"Chegamos em Arezzo pouco antes do meio-dia (…). O castelo, na realidade, era imenso e sombrio. Mas em pleno dia, com o estômago cheio e o coração contente, o relato de Miguel só podia parecer outra de suas tantas brincadeiras para entreter seus convidados."
Assombrações de Agosto, Gabriel García Marquez, Doze Contos Peregrinos
Que tal escrever uma história de terror ou insólita inspirada nesse narrador?
2. Monólogo Interior
3ª pessoa
tom: fluxo de consciência do personagem orientado por um fato externo
A Terra continuamente exaurida murcha, murcha em dobras e rugas de carne morta. (...) Seus filhos se assustam... interropem as melodias e as danças ligeiras... Esbatem no ar as asas finas num zumbido confuso.(...) A vitória de quem foi? Ergue-se um homem pequenino, da última fila.
O delírio, Clarice Lispector
E que tal o desafio de escrever uma história intimista e cotidiana com essa forma tão bonita da Clarice?
3. Onisciência Neutra
3ª pessoa
tom: narrador sem marca pessoal, não faz comentários, nem esclarece nada diante de uma situação absurda, com um saber limitado, ainda que objetivo.
Esse é o tipo de narrador que mais curto! Direto e sem firulas!
"Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso"
A metamorfose, Kafka
É um narrador que vale emperimentar se você como eu gosta de escrever histórias distópicas.👁️
Só por esses três exemplos, já dá para perceber como contos podem nos ajudar a pensar de uma maneira muito colorida os diversos tons que o narrador na literatura pode alcançar. Aproveita essas tintas e mão na massa!
Não deixa de conferir os contos na íntegra e depois me conta o que achou!
Uma lista de contos de clássicos e de autores contemporâneos que vale conhecer 👇
👁️LINKS PARA FICAR DE OLHO
👁️Sayaka Murata me surpreendeu com o conto Um casamento limpo. Distopia e estranhamento para tratar da complexidade das relações contemporâneas.
👁️ Utopia e distopia em um conto intrigante, narrado como uma parábola, da escritora Ursula Le Guin Aqueles que abandonam Omelas.
👁️Alice Casimiro estreia com o belíssimo Vidas sem Margens. Uma coletânea de contos que retrata a beleza do cotidiano a partir de uma perspectiva feminina.
Beijos e até a próxima edição ;)❤
Thais
Não vejo a hora de ler o seu livro, Thaís. Sua newsletter é muito gostosa de ler. Você amarra e encadeia muito bem o seu texto. Você tece, frente e verso sem deixar pontas. Uma maravilha. Vou seguir o seu conselho. Vou ler esses contos e arriscar produzir a partir deles. Gabriel Garcia Marquez e Guy de Maupassant
Oi Thais! Adorei as dicas dessa edição. Realmente ler contos faz com que a gente amplie nosso repertório de escritora, acho uma estrutura mais fácil de enxergar os elementos narrativos do que um romance e pelo seu tamanho, dá pra ler mais e não sentir aquela coisa "empacada" que narrativas longas nos trazem.
abraço!